Parabolia

Amanse-o

Outras histórias mais de um grande afeto.

2018

 

Textos escritos em Português do Brasil.

As traduções foram feitas automaticamente para outras culturas ao menos aproximarem-se do universo lírico.

APIACÁS

Fora mais que o triplo do tempo planejado para chegar ao destino tão esperado pela ansiedade dos dias anteriores. O convite se deu pela mãe daquela de quem gostava. Embora recente o pontapé do romance, não recusou a festa e aceitou o desafio de apresentar-se à família da moça. O desafio. Chateado pelo atraso proporcionado pelas intempéries do caos urbano, ainda que um apreciador dos atratores estranhos, durante a viagem toda construiu um filme na cabeça. E se os convidados, ao entrevistarem-no, perguntassem sua opinião política? Estava indo para um bairro nobre da grande capital.

Ao chegar, confortável pelas piadas a respeito do atraso, não se sufocou com as interações. Estava divertido. Reservaram-no um espaço para compartilhar canções com violão e a variada percussão. Até que sim, lhe foi feita a grande pergunta: e então, qual é sua opinião política? Suou frio. Não queria que tudo fosse por água abaixo. Afinal, acabara de pisar em um bairro nobre da grande capital. Poderia ser que fossem adeptos da atual gestão do prefeito da cidade. Ao mesmo tempo, pensava que não poderia trair seus princípios, até que falou. Sou anarquista. E não como carne. Silêncio.

Naquele instante, chegou a vislumbrar o enxote e começou a amaciar o coração para mais uma frustração de namoricos. Anarquista e vegetariano? Poderia ter ocultado, feito uma piada ou forjado a queda do copo de cachaça. Mas não, e o silêncio parecia eternizar-se para a consagração de seu suor e da vermelhidão das maçãs de seu rosto. Até que estouram as gargalhadas. Era definitivamente o fim! Ao levantar-se desajeitado, torna suas costas para a cartela de risadas e tromba a mãe. De calça preta. De blusa vermelha. Ela lhe diz: saúde e anarquia! Ele retorna sua expressão assustada para os convidados e estes forram a grande mesa com uma bandeira negra. A moça por quem está apaixonado, rouba teu olhar e pisca. E ele acorda. No ponto final da Apiacás.

BOLO DE CENOURA

Grita-lhe do quarto para que materializasse aquela famosa receita do bolo de cenoura. O amigo acata. Estavam pensando na mesma coisa. Afinal, acabara de comprar mais de meia dúzia de cenouras.

Enquanto, dessa forma, seu amigo preparava os condimentos à irem ao forno, o outro untava a forma. Oferecida sua ínfima ajuda, retorna. Calor sentia dentro do quarto inserido naquele pequeno universo de um abraço. A noite se amornava. Consequente, a epiderme. Logo, gradativamente, o coração. Ofegava. Desmantelava-se a cada fio de cabelo seu explorado pela mão direita dela. Entoavam ritmicamente a respiração fitando-se a distância de um palito de fósforo. E aquela ansiedade de querer abraçar o mundo se convertia num instante de miudeza. Tão grande quanto ou ainda maior que a outra pretensão. Em um casal que se observava.

Com quantos versos se faz um beijo? E o bolo assou. Particularmente, como pede a famosa receita.

DÚVIDA

O dia amanheceu assim. Apenas assim. Um dia de ponto final. Mas sem finalizar absolutamente nada.

A semana seguiu assim. Abarrotada de vírgulas. Aposto.

Pois então se apresentam seus ombros, tão estreitos, tão largos, em um corpo cheio de consciência de si, mas imensamente sutil na humildade de um aperto de abraço. O dia reamanhaceu aí.

A semana seguiu assim. De mãos dadas com a saudade e ansiosa pelo próximo aperto.

FERIADO

Um feriado dedicado a cutucar feridas. Não que fosse o planejado, mas as circunstâncias clamavam o desespero de falar. A verdade. De nós dois. Por exemplo. É certo que existe eu e você. E das maneiras como os dois aprenderam a descascar laranjas, também é certa a diferença. Simples. Berços diferentes. Mas de repente, no caminhar descompassado dos dois tempos de respiro, entre inspirar e expirar, na tentativa de se concentrar em correr do desespero de falar, a verdade, existe uma pausa. Uma mureta. Perfeita para sentar. Perfeita para uma pergunta. Exigindo a verdade. Titubeando a omissão. Os dois desabam. Longe de saber que essa era apenas o primeiro conflito de um feriado dedicado a curar feridas.